O HOMEM DE SUÉTER CINZA
eu não quis grudar o olho no homem de suéter cinza.
o homem tinha um nariz de triângulo parecido com o meu, mas ele não se sentou ao meu lado. sentou-se outro de barba e um cheiro forte de mar que eu podia lamber na língua.
não grudei o olho nele para não parecer esquisita. só consigo ser esquisita de longe.
à esquerda, tentei olhar para todas as árvores. quando meu pai se senta ao meu lado, fazemos um jogo: ele me pede para contar árvores e postes. tentei contá-los todos, mas descobri que sozinha quero grudar em árvores.
elas não me quiseram. eu entendi. estavam com pressa.
o ônibus parou em frente à farmácia. subiu o menino loiro que mora na minha rua e com ele o cheiro de cigarro e suor. esse cheiro eu senti arder nos olhos e os fechei.
tentei ouvir todos os barulhos. o motor rugiu no estômago e a conversa do homem de suéter cinza estapearam minha bochecha. ele não tinha voz, mas o suéter falava tão alto que arderam meus ouvidos e os tapei.
encostei o quadril na parede abaixo da janela, mas não perto demais. com os solavancos, vez ou outra a gente se tocava, rápido como um carinho. e era uma graça, não tive coragem de tentar grudar.
acho que sinto melhor as coisas quando não tento pegá-las para mim.
não grudei o olho nele para não parecer esquisita. só consigo ser esquisita de longe.
à esquerda, tentei olhar para todas as árvores. quando meu pai se senta ao meu lado, fazemos um jogo: ele me pede para contar árvores e postes. tentei contá-los todos, mas descobri que sozinha quero grudar em árvores.
elas não me quiseram. eu entendi. estavam com pressa.
o ônibus parou em frente à farmácia. subiu o menino loiro que mora na minha rua e com ele o cheiro de cigarro e suor. esse cheiro eu senti arder nos olhos e os fechei.
tentei ouvir todos os barulhos. o motor rugiu no estômago e a conversa do homem de suéter cinza estapearam minha bochecha. ele não tinha voz, mas o suéter falava tão alto que arderam meus ouvidos e os tapei.
encostei o quadril na parede abaixo da janela, mas não perto demais. com os solavancos, vez ou outra a gente se tocava, rápido como um carinho. e era uma graça, não tive coragem de tentar grudar.
acho que sinto melhor as coisas quando não tento pegá-las para mim.
Maria Catarina
O blog: http://devaneiosavulsos.tumblr.com
A CARTA PSICOGRAFADA
Deniz Carlos Silva dos Santos.
A CARTA PSICOGRAFADA
Nasci no dia 14 de Março de 1790
Na cidade de Lisboa a Capital de Portugal
Fiquei viúva muito jovem e viajei para o Brasil
Encantando-me com esse belo litoral
Anos após, casei-me com António José Lisboa de Souza
Um militar aposentado
Com indígenas e negros aprendi muitos feitiços
Praticando-os o que tinham-me ensinado
Aprimorei-me no mundo oculto
Realizei adivinhações, poções e envenenamento
Minha fama aumentava e para os moradores ilhéus
Eu era motivo de forte tormento
A negra Joana, temia o que poderia lhe acontecer
Após um desentendimento comigo
Ela adoeceu e em seguida veio a falecer
Em 1812 o padre ilhéu
Junto com o Capitão à quem a negra pertencia
Levou o caso ao Governador da Província de São Paulo
Acusando-me por crimes de feitiçaria
Meu casarão à beira da praia
Pelas autoridades foi todo revistado
Além de uma "orelha humana" seca
Um livro com anotações de feitiçaria, também foi encontrado
Por essa razão
Fui levada para a cadeia de São Vicente
Rica e conhecedora de muitos segredos alheios
Fui liberada por uma pessoa bastante influente
Em 22 de Outubro de 1817
Apunhalei o meu marido no momento de uma briga
Fui surpreendida quando ele revidou
Matando-me, com uma facada na altura da barriga
Nesta ilha que é cercada pelo mar
Aprendi a enfeitiçar
E até mesmo a matar
No local onde morri
Comecei a assombrar
Muitas de minhas relíquias
Estão onde foi o meu último lar
Sob a guarda de meus descendentes
Ou que tenham comigo algum vínculo familiar
Guardadas no fundo de um escuro porão
Trancadas por uma espessa porta de madeira
Meu nome era Maria Perpétua Calafate
Também conhecida como, a Feiticeira.
Apunhalei o meu marido no momento de uma briga
Fui surpreendida quando ele revidou
Matando-me, com uma facada na altura da barriga
Nesta ilha que é cercada pelo mar
Aprendi a enfeitiçar
E até mesmo a matar
No local onde morri
Comecei a assombrar
Muitas de minhas relíquias
Estão onde foi o meu último lar
Sob a guarda de meus descendentes
Ou que tenham comigo algum vínculo familiar
Guardadas no fundo de um escuro porão
Trancadas por uma espessa porta de madeira
Meu nome era Maria Perpétua Calafate
Também conhecida como, a Feiticeira.
Deniz Carlos Silva dos Santos.
No comments:
Post a Comment